Esperança crescente, a partir de novos conhecimentos sobre uma nova cultura
O arroz é produzido em outras regiões de Angola, mas não na área em redor do Bailundo, embora as condições sejam favoráveis e haja muita procura local. Com base no fornecimento de conhecimentos técnicos que já estão a ser transmitidos por outras organizações, o CDAIS está a agregar o desenvolvimento de competências de outro tipo, ‘competências funcionais’ necessárias para colaborar, aprender, partilhar engajar e adaptar. “Agora vamos cultivar arroz para sempre”, diz Marcos Satuala. “Esta inovação deu-nos uma óptima coisa – uma nova cultura. E com o CDAIS podemos aprender mais, e produzir mais, tanto para as nossas famílias como para vender.”
“O nosso grupo produziu 2,5 toneladas de arroz no ano passado, enquanto antes nem sequer produzíamos arroz”, diz Zacarias Cassinda, membro do grupo. Outros membros confirmam que não é apoio financeiro de que precisam, mas ajuda técnica, e que estão gratos por o CDAIS os estar a ajudar a criar esta oportunidade e a ensiná-los a fazer os contactos necessários. No entanto, sabem muito bem que têm de pedir especificamente o que necessitam, repetindo o ditado local “bebé que não chora, não recebe o leite da sua mãe.”
“Nós podemos ter todo o crédito do mundo, mas se não possuirmos competências para usar o dinheiro sabiamente, tudo será desperdiçado.” Zacarias Cassinda, agricultor membro da associação Alimuat, Bailundo.
A escola de arroz
Com 183 membros de quatro aldeias, a Associação Alimuat foi formada em 2010 por pequenos agricultores que viram as vantagens de trabalhar em conjunto e as vantagens que isso poderia trazer a todos. Depois, em 2015, criaram uma iniciativa. Tal como acontece com tantos agricultores na área, cultivavam principalmente milho e feijão, mas também comem arroz em casa, embora nunca tenham cultivado arroz antes. Não tendo ideia de como cultivá-lo, contactaram a agência local de extensão agrícola, a Estação de Desenvolvimento Agrário (EDA) unidade do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA). Eles, por sua vez, fizeram contacto com o Instituto de Investigação Agronómica (IIA), e surgiu uma ideia. A peça final do quebra-cabeça era ligarem-se à Agência Japonesa de Cooperação Internacional (JICA), que concordou em oferecer assistência material e técnica por um período de dois anos. Uma das inovações que foi criada foi a “escola de arroz”.
Em 2016, este grupo de arroz foi seleccionado como uma das parcerias de inovação do CDAIS. Os agricultores já recebiam sementes e outros insumos e treinamento em técnicas de produção de arroz, mas ainda não possuíam competências funcionais adequadas para aproveitar ao máximo esse apoio. Então, o CDAIS surgiu como uma forma de ajudar a preencher essa lacuna. O trabalho continua, com os agricultores a prepararem-se para a segunda colheita. E estão a aprender a toda a hora. O IIA e o IDA estabeleceram vários locais para as inovadoras “escolas de arroz”, onde os membros da associação vão e trabalham todas as segundas-feiras, para aprender competências básicas e onde também estão a testar novas variedades e novas técnicas de cultivo. Alguns agricultores também estão a testar métodos diferentes nas suas próprias terras, por exemplo, transplantar mudas em vez de fazer sementeira directa. Um fazendeiro, Julino Paulo, explica: “Uso menos sementes quando transplanto, mas leva mais tempo. Agora espero para ver qual é o método que irá produzir mais”.
Fazer a mudança acontecer
Após a selecção desta parceria pelo grupo de trabalho técnico do CDAIS, decorreu um workshop de levantamento de necessidades em competências, de três dias no início de outubro de 2016. A parceria inclui a associação de produtores Alimuat, o Instituto de Investigação Agronómica (IIA) e a Unidade de extensão agrária da província, o IDA, entre outros. Vuvu Nzambi, do IIA, explica que, noutras províncias, o cultivo de arroz é dominado por grandes agricultores, e o que é inovador aqui é a passagem de competências de cultivo de arroz para pequenos proprietários. Desde o workshop inicial, os membros do grupo fizeram cinco cursos de treinamento diferentes, e o chefe da associação, Marcos Satuala fala muito sobre o que foi aprendido por eles e transmitido aos outros. E o trabalho continua. Mas, como muitos agricultores acreditam, a mudança só pode acontecer se for lentamente. “A mudança é como um caçador se for demasiado rápido, apanha apenas um coelho, mas se ele for devagar e cuidadosamente apanhará dois …”disse um dos membros da parceria.
“Nós gostamos da ajuda do CDAIS e ter visitas aos nossos campos encoraja-nos muito. Espero que continue … ”
Manuel Kapungo, membro da associação de agricultores Alimuat, Bailundo.
Dando passos na direcção certa
“Nós aprendemos os benefícios de trabalhar em grupo, mas agora precisamos de aprender a calcular os nossos custos”, diz Manuel Kapongo, tesoureiro do grupo. Elias Tiago, membro da associação, explica como aprendeu a gerir os aspectos técnicos e a adquirir os produtos de que precisa. Afirma que o CDAIS o ajudou a pensar sobre qual a melhor forma para os adquirir e a encontrar especialistas que podem ensiná-lo a usá-los de forma mais eficaz e eficiente.
Mas continuam a existir necessidades
“Nós recebemos-vos aqui, onde tão poucos chegam”, diz Solino Kalalika, o soba, a entidade tradicional da aldeia. “Mas precisamos de mais ferramentas, sementes e outros insumos agrícolas e transporte para escoar a produção para o mercado”, uma visão expressa por muitos. No entanto, em particular, Maria de Fátima do Nascimento, gestora nacional do CDAIS em Angola, explicou esse raciocínio. “Aqui vemos, de forma clara, aspectos de dependência, que ainda precisam de ser superados. Após a guerra civil, o governo ajudou muito na reorganização da agricultura, fornecendo sementes, fertilizantes, ferramentas – tudo – tudo de graça. Por isso, a maioria das pessoas ainda espera o mesmo e dificilmente aceita que estamos na fase de desenvolvimento, que isso não possa mais acontecer. Mas o CDAIS está a mostrar que ao trabalharem juntos e aprenderem a relacionar-se com os outros, podem perder essa dependência e ficar orgulhosos por terem criado algo por eles próprios.
Numa das reuniões, os agricultores dizem novamente que ainda precisam de um descascador de arroz. Então, a pergunta é feita novamente, “como é que vão conseguir um? Vocês têm de pensar, vocês é que têm de decidir. “E agora eles pensam … (e pensam para si mesmos … não podemos simplesmente pedir um … ?!). “Mas se formos um grupo formalizado, podemos pedir um empréstimo e comprar um que todos possam usar …” E isso é o CDAIS, posto em prática.
“Ainda precisamos de convencer o governo de que apoiar os nos nossos esforços é bom para a economia nacional, pois reduzirá as importações de arroz”, diz Zacarias Cassinda. E este é um ponto que certamente será levado ao nível nacional para o diálogo político que o CDAIS está a organizar.
E embora a associação tenha um organigrama e tenha eleito membros para presidente, secretário, tesoureiro, etc., ainda não são formalizados. O CDAIS irá ajudá-los a passar pelo processo legal de registo da sua associação, o que os tornará mais fortes quando decidirem abordar bancos para pedir empréstimos ou outras entidades para obter apoio adicional.
“O nosso sonho é aumentar nossa produção, não apenas para nós, mas para beneficiar toda a economia, e o CDAIS está ajudar-nos, ensinando-nos a negociar a todos os níveis”. Marcos Satuala, chefe da associação de agricultores Alimuat, Bailundo